Combate à Covid 19 - As Vacinas e suas diferenças

Tratamentos propostos e eficácia
Tanto a proposta de vacina da Pfizer/BioNTech como a da Moderna têm por base a manipulação de moléculas de RNA (sigla inglesa para o ácido ribonucleico), a base igualmente do SARS-CoV-2.
O tratamento proposto por ambas as propostas passa, digamos assim, pela divulgação por uma RNA-mensageira de "notícias falsas" ao novo coronavírus, dando ao mesmo instruções às células humanas para anteciparem a defesa à ameaça do SARS-CoV-2.
Uma cópia manipulada da RNA do novo coronavírus é administrada nos pacientes e "informa" o corpo da chegada de um invasor para o qual é necessário gerar proteínas de defesa e lançar anticorpos específicos para neutralizar este invasor.
Ao mesmo tempo que o agente infeccioso recebe um sinal de que as células já estarão infetadas tornando-se menos agressivo e dando ao corpo humano tempo para reagir devidamente..
A proposta Oxford/AstraZeneca baseia-se, por outro lado, no ADN e no uso de um adenovírus inativo e codificado para neutralizar os espinhos que dão nome (coroa) à família deste novo coronavírus e que são usados para infetar as células humanas.
O adenovírus de base nesta vacina é adaptado dos chimpanzés, aos quais provoca ligeiras constipações, e é inofensivo para os humanos, mas revela eficácia no levantamento de imunidade contra o SARS-CoV-2.
Este adenovírus enfraquecido foi codificado para não crescer no corpo humano e o processo de defesa passa pela informação às células para desenvolverem uma proteína similar à dos espinhos e induzirem uma resposta imunitária, permitindo a defesa a um eventual ataque pelo SARS-CoV-2.
As propostas do consórcio Pfizer/BioNTech, a mais próxima da autorização europeia, e a da Moderna apresentam uma taxa de eficácia superior a 90%.
A proposta Oxford/Astrazeneca fixou inicialmente uma média de 70%, mas um erro nos testes com uma dosagem diferente em diversos sujeitos provocou resultados diferentes, abrindo a porta a uma eficácia também na casa dos 90%.
Novos testes estão agora a ser realizados para confirmar a maior eficácia quando a primeira dose é mais reduzida e a segunda é completa. A descoberta está a atrasar um pouco o processo de validação daquele que parece ser a favorita entre as três mais avançadas.
O preço
O preço final é das vacinas é naturalmente influenciado pelo processo de produção, distribuição e administração específico de cada uma.
A proposta Oxford/Astrazeneca está avaliada em cerca de €6 por pessoa contra os €33 da da Pfizer/BioNTech ou os mais de €50 da da Moderna. As três propostas preveem uma dupla dose a cada pessoa.
As condições de transporte, armazenamento e manipulação especializada são mais acessíveis na proposta Oxford/Astrazeneca, uma vacina que pode sobreviver seis meses num frigorífico normal e com uma capacidade de produção estimada de até €3 mil milhões doses em 2021.
A proposta Pfizer/BioNTech é a mais complexa, precisa de temperaturas abaixo dos 70 graus centígrados negativos, o que requere meios de armazenamento e transporte de alta tecnologia, o que obriga também pessoal especializado, podendo ser guardada em casa no máximo cinco dias.
O consórcio entre a empresa norte-americana e a alemã está a tentar desenvolver uma versão liofilizada, isto é, em pó, para estar pronta em 2021 e que pretende possibilitar o transporte e a administração em temperaturas normais.
O consórcio Pfizer/BioNTech, já com autorização de uso da vacina no Reino Unido, prevê ter disponibilizado para todos o mundo 50 milhões de doses no final de 2020 e mais 1,3 mil milhões em 2021.
A da Moderna, a mais cara, tem exigências intermediárias às outras duas, pode manter-se estável entre os dois e os oito graus centígrados, mas o armazenamento a longo prazo exige temperaturas abaixo dos 20 graus negativos.
A produção prevê chegar aos 20 milhões de doses até final do ano e admite produzir até mil milhões de doses 2021.
A União Europeia já garantiu a compra de dezenas de milhões de doses destas três vacinas e, enquanto aguarda a "luz verde" da EMA, está a trabalhar no processo de distribuição pelos Estados-membros.
Portugal tem reservados 22 milhões de doses, com o primeiro lote esperado já a 1 de janeiro.
Além das três propostas mais avançadas, aqui referidas, há outras vacinas em testes por todo o mundo e algumas, apesar da carência de validação internacional, já em uso como, por exemplo, na China e na Rússia.
Doses compradas pelo Brasil
O Governo brasileiro anunciou em agosto a abertura de um crédito extraordinário de 1,9 bilhão de reais para a produção e aquisição de 100 milhões de doses da vacina Oxford-AstraZeneca. A medida também prevê a transferência de tecnologia ao país caso a vacina se mostre eficaz e segura. A absorção da tecnologia será feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o processamento da vacina pela Bio-Manguinhos. Dados recentes sobre os resultados da eficácia da vacina mostram que o país pode ganhar 30% a mais de doses. Isto porque diferenças nos testes mostram que com uma dose reduzida e uma completa, em um intervalo de 30 dias, a eficácia da vacina é de 90%. "Em vez de termos vacina para 100 milhões de brasileiros, poderíamos vacinar 130 milhões. O que é um ganho adicional. Foi uma boa notícia", disse Marco Krieger, vice-presidente de produção e inovação em saúde da Fiocruz, à Agência Brasil. A previsão é que a produção da vacina no Brasil tenha início a partir de dezembro deste ano.
O Governo do Estado de São Paulo assinou um acordo para a compra de 46 milhões de doses da vacina da Coronavac. As primeiras 6 milhões de doses chegarão prontas da China ― 120.000 doses já estão em São Paulo prontas para serem aplicadas após a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Intituto Butantan passará a produzir as imunizações no Brasil após a reforma de sua fábrica que está recebendo investimentos da ordem de 160 milhões de reais. Após o Ministério da Saúde voltar atrás no anuncio de compra de mais 46 milhões de doses da vacina do laboratório chinês, o governador do Estado, João Doria, afirmou que pode garantir a compra de 100 milhões de doses, mesmo sem verba federal.
O Ministério da Saúde aderiu a iniciativa Covax Facility, liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que irá permitir ao país acesso a pelo menos nove vacinas em desenvolvimento. Pelo acordo, o país tem direito a uma reserva de 40 milhões de doses. O Governo pretende divulgar um calendário de vacinação contra a covid-19 para 2021 e para isso está se reunindo com cinco farmacêuticas ― Pfizer, Moderna, Janssen-Cilag (braço da Johnson & Johnson), a indiana Bharat Biotech e o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF).
A farmacêutica União Química informou que assinou acordo com o RDIF para produzir a vacina Sputnik V no Brasil, segundo a Reuters. A empresa disse que firmou um acordo de confidencialidade que a impede de fornecer quaisquer detalhes técnicos ou científicos. O laboratório ainda precisa obter aprovação da Anvisa para a produção.
Como a vacina é a esperança em dias melhores, que venha ela e que seja eficaz.
Raquel Rocha